quarta-feira, 31 de março de 2010

Projeto: Respeito à diversidade na escola

Objetivos
- Geral: Estimular intervenções individuais e coletivas contra atitudes preconceituosas.
- Para a equipe diretiva e a coordenação pedagógica: Criar condições necessárias para que as ações sejam realizadas.
- Para os professores: Definir conteúdos, atividades e abordagens metodológicas que tratem a cultura negra de modo transdisciplinar.
- Para os alunos: Compreender a diversidade étnico-racial e respeitá-la.
- Para os funcionários: Participar de ações educativas que visam melhorar o comportamento de todos com relação à diversidade.
- Para os pais: Colaborar com as ações propostas pela escola e, assim, desenvolver atitudes de respeito à diversidade étnica e racial.

Conteúdos de Gestão Escolar
- Administrativo: Levantamento dos perfis dos alunos, elaboração de questionários, tabulação dos dados e organização de atividades.
- Comunidade: Estímulo à reflexão sobre o tema.
- Aprendizagem: Estudo da cultura afrobrasileira e das semelhanças e diferenças entre grupos étnicos existentes na escola. Elaboração de estratégias de combate à discriminação para a formação continuada dos professores.

Tempo estimado:

Um ano.

Material necessário:

Livros didáticos e de literatura, filmes, murais, sequências didáticas, caderno de anotações compartilhado entre todos, questionários de diagnóstico, acompanhamento e avaliação.

Desenvolvimento:

1ª etapa: Diagnóstico

Com base nas fichas de matrícula dos alunos e entrevistas iniciais feitas com os pais, prepare um levantamento do perfil dos alunos da escola. Reserve um horário de formação para apresentar aos professores esse material e leve também os relatos das atitudes preconceituosas observadas na escola sem dar nomes nem fazer julgamentos. Peça que todos respondam a um questionário com perguntas sobre a cultura negra e o modo como o racismo se manifesta. Todas as informações devem ser tabuladas e servirão de base para o planejamento pedagógico.

2ª etapa: Participação dos funcionários

Todos devem ser envolvidos no projeto desde o início. Marque uma reunião com os funcionários do serviço de apoio para falar sobre o trabalho que será desenvolvido na escola. Afirme que a participação deles é fundamental para que a escola se torne um lugar de respeito à diversidade. Peça que os diferentes grupos de funcionários escolham uma maneira de participar e elaborem uma ação pontual sobre o tema. No CMEB Mário Leal Silva, cada grupo ganhou um mural para desenvolver o trabalho. As merendeiras, por exemplo, preencheram o espaço com receitas africanas que passaram a preparar na cantina.

3ª etapa: Envolvimento dos pais

As perguntas a respeito do racismo na escola devem ser feitas também aos pais para que eles relatem situações nas quais eles ou os filhos vivenciaram situações discriminatórias. Mande um questionário para que eles respondam em casa. Tabule os resultados e exponha-os em uma reunião do Conselho Escolar, onde todos podem debater o assunto e pensar em maneiras de evitar que atitudes preconceituosas voltem a ocorrer. Pelo menos duas vezes ao ano, promova um encontro de pais e peça que cada um traga elementos de sua cultura (como objetos de artesanato) para que sejam compartilhados com o grupo. Discuta a responsabilidade que todos têm na manutenção de um convívio sem preconceitos e exponha as ações que a escola desenvolve contra a discriminação.

4ª etapa: Encontros de estudo

Com a análise dos diversos questionários que foram feitos, agende reuniões com a equipe pedagógica para discutir um plano de trabalho e elaborar propostas. No início, apresente um trecho de um filme que tenha alguma situação de preconceito. No CMEB Mário Leal Silva, a diretora, Mônica Louvem, apresentou O Triunfo, que trata da hostilização contra alunos pobres e negros e das ações de um professor para mudar isso. Debata as soluções encontradas pelo personagem. O obejtivo é fazer com que o grupo formule sugestões para serem colocadas em prática. Devem surgir algumas ideias, como eleger um dia da semana para o estudo de diferentes culturas - africana, europeia, oriental ou indígena - ou ainda promover momentos de leitura em conjunto com alunos e funcionários para a compreensão da diversidade étnica.

5ª etapa: Definição de conteúdos disciplinares

Sob a orientação do coordenador pedagógico, os professores devem introduzir conteúdos ligados à cultura africana no planejamento das aulas, como a leitura de textos e a análise de pinturas e desenhos e a posterior produção (que pode ser exposta nos murais da escola). Outra sugestão é oferecer atividades pedagógicas no contraturno.

6ª etapa: Documentação e acompanhamento

A equipe de gestão deve acompanhar de perto as atividades. Ao longo do projeto, os relatos de pais, funcionários e professores devem ser registrados em um caderno de anotações que será compartilhado entre todos. Os alunos podem documentar as medidas que consideram importantes para combater o preconceito. Sempre que houver manifestações de racismo, é importante fazer uma reunião com os envolvidos - sejam eles professores, pais, funcionários ou alunos. O diálogo entre as partes, com intermediacão de uma terceira pessoa, é a melhor solução para os problemas de discriminação.

Avaliação

As atitudes preconceituosas devem diminuir na escola. Ao fim de um período, toda a comunidade pode responder a um novo questionário: que contribuições o projeto está trazendo para o trabalho e o cotidiano? Que mudanças foram observadas? Quais atividades você considera de maior relevância? As respostas servirão de orientação para novas práticas.

Disponível em:
http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/coordenador-pedagogico/respeito-diversidade-escola-racismo-diferencas-532533.shtml
Acesso em 30 mar 2010

A escola e o Bullying


O Bullying é um dos principais problemas que enfrentamos em sala de aula atualmente. Os diversos tipos de agressões que ocorrem nas relações entre alunos e até na relação professor-aluno deve ser alvo de imensos esforços a fim de minimizar as ocorrências e consequências dos mesmos. Penso que o educador deve estar muito atento a tais questões e procurar trabalhar não apenas com os alunos tal questão, mas também com as famílias dos alunos sempre que possível. Não podemos nos esquecer que, em várias situações, o aluno não age conscientemente, e sim repete o que vê em casa, pois os exemplos que lhe são dados no lar são as bases que o mesmo tem para diferenciar "o certo do errado". Entretanto, é fundamental também que o educador provure perceber, na medida do possível, todos os atores que levam a tal situação em sala de aula.
Em sala de aula, muitas vezes o aluno agride um colega apenas pelo fato do colega ser diferente dele. Seria isto também uma reprodução da sociedade? Claro que sim. Dependendo do contexto social em que viva o aluno, aquela situação, para ele, torna-se plenamente justificável. Portanto, é fundamental que o tema seja discutido amplamente pela sociedade, pois é na escola que as principais manifestações do bullying se dão, mas não o único. Muitas vezes as agressões sofridas na escola acabam se transferindo para a "rua", por exemplo, o que pode provocar danos psíquicos ainda mais graves para os alunos, podendo resultar em casos trágicos, como o massacre em Columbine, nos Estados Unidos, onde dois alunos, vítimas do bullying, mataram cinco colegas e depois se suicidaram.
Outro ponto que gostaria de discutir é a forma de abordagem da situação. Por muitas vezes, o educador acaba interferindo nas situações de maneira imprópria, por uma série de fatores. Não se pode esquecer também que o agressor também merece nossa atenção, e que, antes de tomarmos quaisquer atitudes, devemos refletir muito para não expor ainda mais o aluno que foi vítima do bullying.
Penso principalmente que a melhor forma de combater o bullying é ter consciência de que ele é um conflito de relacionamento humano, e como tal, dificilmente será totalmente extinto da escola. Temos que ter em mente que devemos trabalhar conscientizando todos os envolvidos no processo de construção do cidadão, ou seja, pais, professores e demais componentes da equipe pedagógica, além da comunidade. A conscientização de todos de que o problema do bullying é gravíssimo é o primeiro passo para que atitudes transformadoras sejam adotadas na escola e na sociedade.

Cidadania ativa e cidadania passiva


A cada dia vemos mais e mais situações em que pessoas ou a mídia fala em cidadania, em ser cidadão. Já que é um conceito tão “na moda” atualmente, qual seria o real significado da palavra cidadania? Será o significado tão simples como é veiculado nos meios de comunicação e propagado nas conversas rotineiras entre os ditos cidadãos?
O conceito de cidadania tem sido muito deturpado ao longo dos anos, parte pela falta de interesse da sociedade, parte pela falta de interesse da classe dominante em fazer com que todos reflitam a respeito.
Quando se fala em cidadania, em qualquer ocasião, sempre se remete a questão de direitos e deveres. Todos, como cidadãos que somos, temos nossos direitos e também nossos deveres. Entretanto, ater-se apenas a direitos e deveres é nada mais que pensar única e exclusivamente em si mesmo, pois se trata apenas de pensar o que devemos fazer para conseguirmos algum benefício próprio, já estabelecido previamente por leis, tratados, acordos, etc. Este tipo de participação cidadã nada mais é do que uma mera participação passiva na sociedade, pois não fazemos nenhum (ou quase nenhum) tipo de esforço para mudar as situações que acompanhamos cotidianamente. Portanto, penso que se faz urgente uma mudança de pensamento e conceito a respeito do que é cidadania e como exercê-la de maneira consciente e eficaz.
A escola e nós, educadores, temos tentado criar no educando uma “consciência cidadã” durante todo o processo de educação formal. Contudo, será que temos contribuído para formar cidadãos ativos ou cidadãos passivos? Confundimos, tanto na escola quanto na sociedade, cidadania ativa com cidadania passiva, pois pensamos que ser um cidadão ativo é apenas requerer o cumprimento das leis, observando direitos e deveres da pessoa humana. Penso que é exatamente este o ponto de reflexão que tanto a escola quanto nós, educadores, devemos estar centrados, pois acabamos difundindo este pensamento, perpetuando a cidadania ativa ligada apenas à cobrança de direitos, quando deveríamos tentar criar nos educandos e consequentemente na sociedade a consciência de que o termo cidadania está intimamente ligado à política, e, portanto é algo que remete a nossa participação na vida de toda a sociedade, visando o seu crescimento e aprimoramento, deixando de lado o individualismo e colocando a visão do todo em primeiro lugar.
Outra questão é digna de uma boa reflexão: quem deve exercer seu papel de cidadão? Claro que pessoas já na fase adulta têm que exercer sua cidadania da melhor maneira possível, mas será que crianças estão aptas a desenvolver sua cidadania? Claro que sim. Penso que é desde a infância que deve ser despertada a consciência de que todos devem ter um papel ativo e transformador na sociedade. Respeitadas as especificidades e potencialidades de cada estágio do desenvolvimento humano, consegue-se realizar o trabalho de conscientização cidadã em cada um dos envolvidos no processo, independentemente de sua idade, observando a todos como sujeitos do processo de cidadania. E o nosso desafio, escola e educadores, nesse contexto, é fazer com que os educandos exercitem a cidadania desde cedo, sem pensar que isso deva ser feito somente como preparação para a idade adulta, para que os mesmos possam participar das decisões que influam diretamente no seu dia-a-dia, tornando-se assim cidadãos ativos.

Preconceito na escola

Correio Braziliense - 22 de novembro de 2006 - Além de enfrentar o drama da prostituição, crianças sentem na pele a carga de desconfiança e a condenação moral de professores e colegas do colégio. No Mato Grosso, menina de 15 anos só conseguiu voltar a sentar em frente ao quadro negro depois de ser presa por porte de maconha.

Por Erika Klingl

Mariana chora. Chora quando conta sua história de vida. Quando lembra das humilhações. Da zombaria dos colegas da escola. Chora quando abraça a assistente social que lhe deu apoio. Mariana tem 15 anos de idade. São oito anos de infância e sete como vítima da exploração sexual. Sete anos de exclusão. Marcada pelas ruas, não conheceu um dia sem discriminação. Abandonou cinco escolas, cansada de ser chamada de puta pelos colegas e até por professores. E, só agora, cercada pelas grades de uma instituição para crianças e jovens em conflito com a lei, ela consegue estudar. Cercada por meninas com histórias quase tão sofridas quanto a dela, não se sente deslocada. E tenta recomeçar.

A história de Mariana começou quando ainda era um bebê na barriga da mãe, que trabalhava no garimpo em Apiacás, na região norte do Mato Grosso. O pai também era garimpeiro. A criança foi entregue a uma vizinha que cuidou dela até completar 8 anos. Então, Mariana foi abandonada. Pela segunda vez.

Sem ter onde morar, a garota foi trabalhar em um bordel freqüentado por homens do garimpo. Nos primeiros dias, limpava as mesas. Mas não tardou para que começasse a receber trocados e bebida alcoólica. Tudo para dançar em cima das mesas, que acabaram tornando-se palco para a mirrada menina de 8 anos. O álcool deu lugar à droga menos de seis meses depois. As apresentações de dança deram espaço para a exploração sexual. E assim passaram-se sete anos.

Nesse período, Mariana teve contato cinco vezes com a Rede de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Sempre recebia conselhos e era matriculada em alguma escola. “A história se repetiu toda vez, em todas as escolas. Eles me chamavam de puta e riam na minha cara, dizendo que ali não era o meu lugar. De tanto falarem que eu não valia nada, comecei a achar que não ia aprender nada mesmo”, desabafa. “Na rua, todo mundo me trata bem. Por que eu ia ficar num lugar onde ninguém me queria?”, pergunta.

Pressão

Entre os que humilhavam Mariana, estavam alunos e professores que já tinham visto a menina na Rua das Velhas, ponto de prostituição na cidade. “Pode anotar aí: nunca houve um professor que me ajudou. Nenhum me olhou e disse que eu podia mudar de vida”, resume.

Hoje, Mariana está em um centro de ressocialização de menores em conflito com a lei. Ela foi pega com a ponta de um cigarro de maconha e enquadrada por porte de entorpecentes. O lugar nem de longe inspira qualquer possibilidade de ressocialização. É cheio de grades e sem atividades lúdicas. Mas trouxe, pelo menos, uma vantagem para Mariana. Pela primeira vez, desde os 8 anos, ela é tratada como uma menina normal. Mariana vive em um país em que é necessário estar em uma sala de aula cheia de grades nas janelas para encontrar-se com a educação, a principal chave da cidadania.

Na história de vida de Mariana, a escola teve papel de destaque. Mas em vez de assumir papel de mocinho, o sistema educacional foi carrasco.

“A escola ajudou a vitimizá-la quando deixou a impressão de que, na exploração, ela seria mais feliz. A menina foi uma vítima da incompreensão e da falta de tolerância de professores e diretores que não quiseram enfrentar o desafio de tirá-la da prostituição”, lamenta Dulce Regina Amorim, assistente social do Conselho Tutelar de Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá (MT).

Disponível em:
http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/clipping/2006/preconceito-na-escola/
Acesso em 30 mar 2010

A escola, o educador e a diversidade




Ao nascer, o ser humano não está fisicamente pronto para o mundo que encontra. durante os primeiros anos de vida, o mesmo tem seus órgãos em constante transformação e adaptação para a vida. Assim como o corpo do ser humano ainda se adapta às condições encontradas no ambiente, suas habilidades cognitivas também se adaptam ao que lhe é apresentado, e é através do que ele vivencia que vai formando suas idéias e visões de mundo. No entanto, algumas das concepções e/ou idéias de mundo deste ser humano em formação acabam sendo deturpadas ou equivocadas devido à influência de fatores alheios ao mesmo. Estas idéias equivocadas podem passar desapercebidas no contexto familiar, pois a principal visão da família, na maioria dos casos, é de proteção aquele indivíduo. É na escola que estas idéias acabam sendo transformadas, através da convivência com aquele que é alheio a família e a sua realidade e/ou através da interferência direta do trabalho pedagógico alí exercido.
A escola é um dos espaços sociais mais importantes da vida de um ser humano. É nela que vivenciamos as primeiras interações e experiências mais contundentes de nossa vida em sociedade. Quando entramos na escola, somos obrigados a conviver com os mais diversos tipos de pessoas, que acabam tendo opiniões diferentes daquelas que tínhamos num contexto familiar restrito. Através das novas experiências vividas neste espaço é que caem algumas das idéias mais equivocadas que pode-se ter a respeito do mundo e, consequentemente, do diferente. Todavia, é importantíssimo ter consciência de que tal processo não acontece sozinho, e é fundamental que o educador compreenda isso, para que possa intervir significativamente no processo. Todas as ações ocorridas em sala de aula influenciam no comportamento dos alunos, pois os mesmos estão em formação, e quaisquer comportamentos do professor podem reforçar ou transformar uma idéia. É através do trabalho pedagógico na escola que pode-se desmistificar a questão do convívio e do respeito às diferenças, fazendo com que o educando compreenda o quão vil pode ser a sociedade e o preconceito. É através do trabalho pedagógico e da postura do educador que o processo de transformação da sociedade pode (e deve) ter início.
A escola, o educador e a diversidade: três vértices de um mesmo triângulo. A influência de um sobre o outro é fundamental e importantíssima para que a sociedade possa ser transformada. É nesta interação que inicia-se o processo de conscientização sobre o que a sociedade presenta e de deve ser transformado e ter consciencia disto, penso, é fundamental para atingir-se uma sociedade menos desigual e mais consciente.

Desigualdade e diferença: breve análise

O que é ser uma pessoa desigual e o que é ser uma pessoa diferente? Desigual e diferente são sinônimos, mas ao falar de pessoas, por maiores que sejam os sinônimos, jamais podemos achar que têm realmente o mesmo significado. As questões relativas a pessoas nunca podem ser julgadas como realidades fechadas, com significados únicos, até porque as pessoas são mutáveis, agindo e vivendo de acordo com as experiências de seu cotidiano.

Penso que pessoa desigual é aquela que vive num contexto de desigualdade, onde não depende apenas dela as ações para que as mudançaas necessárias ocorram. Exemplo: uma pessoa que sofre os mais diversos tipos desde a violência física e/ou psíquica até a violência social devido as situações a ela impostas pela sociedade, por mais que queira mudar, não depende única e exclusivamente dela tal mudança, até porque a situação de desigualdade em que ela está inserida diminui inclusive as chances que essa pessoa tem. Uma pessoa desigual também pode ser uma pessoa diferente, mas esta normalmente estará inserida num contexto social de agressão a condição humana, sofrendo com falta de algumas das condições fundamentais para uma vida totalmente digna. Já a pessoa diferente pode também ser vítima de realidades sociais degradantes, mas ela pode estar inserida num contexto social que lhe dê praticamente todas as condições para seu desenvolvimento e mesmo assim ser diferente. Para ser uma pessoa diferente, penso, basta não estar inserido no que se considera regra para aquele grupo social. É como a questão do domínio europeu aos povos americanos nos séculos XV e XVI. Consideravam os povos "conquistados" diferentes e inferiores, pois não se vestiam, falavam ou tinham a mesma religião dos europeus, mesmo que tal sociedade fosse sim evoluída, como o império Inca. Exemplificando com um exemplo um pouco mais antigo, no antigo Império Romano, eram considerados bárbaros aqueles que não se adequavam ao que os romanos achavam normal. Portanto, a questão do diferente remete a inúmeros fatos, inclusive a questão do bem e do mal, do certo e do errado, superior e inferior, etc., gerando inúmeras formas de preconceito.

Tanto o desigual quanto o diferente sofrem diversas formas de violência no convívio social, que só diferem pelo teor de cada realidade. Ambos podem ser considerados inferiores, mas a pessoa considerada diferente pode mudar sua realidade tentando adequar-se a realidade do grupo, por mais difícil que isso seja. As pessoas podem ser diferentes, mas apenas as que encontram-se em um contexto de desigualdade não dependem apenas de si mesmas para mudarem sua realidade.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Diversidade na Escola




Devido à obrigatoriedade de matrícula das crianças no ensino fundamental regular, percebeu-se um incontestável aumento no acesso à educação formal, o que trouxe algumas “conseqüências”. Com o aumento dos alunos matriculados, era óbvio que surgiriam necessidades de adequação às necessidades dos mesmos, o que, com certeza, seria imprescindível para que a escola realizasse seu mais fundamental papel: o de formar cidadãos capazes de viver em sociedade, utilizando-se plenamente de suas capacidades e/ou competências para desempenhar seu papel. Em outras palavras, para que a escola conseguisse “humanizar o ser humano”. Dentro do ideal de novas necessidades à educação de qualidade, dadas as novas circunstâncias, surgem diversas discussões, dentre elas a discussão sobre a questão da diversidade na escola e na sociedade como um todo.

Enfrentar uma sala de aula, como se sabe, não é das tarefas mais simples, tanto para professores quanto para alunos. Para fazê-lo, precisamos mobilizar determinadas atitudes pessoais, tanto físicas quanto cognitivas, a fim de que consigamos desempenhar nosso papel, não apenas naquele contexto, mas em todo o contexto social. No entanto, uma sala de aula jamais será homogênea, pois, por maior que seja a tentativa de fazê-lo, o que se conseguirá é apenas uma aproximação da homogeneização, não ela por completo. Sendo assim, faz-se necessário que o educador seja capaz de compreender este fato e que o mesmo se adéqüe a ele, conseguindo assim, de forma mais adequada, desenvolver seu trabalho.

A escola, por si só, já é um ambiente diferente aos que nela adentram pela primeira vez, e como a mesma acaba por reproduzir fatos recorrentes na sociedade, muitas vezes, a falta de um trabalho específico de conscientização faz com que haja um processo de segregação ainda mais cruel que o já vivido por aquele que nela busca usufruir de um direito adquirido. Assim, a questão da diversidade deveria se confundir, ou até mesmo se fundir com quaisquer discussões presentes na escola, tendo o mesmo peso de todas as demais discussões que ali ocorrem. Contudo, infelizmente, na maioria dos casos não é isso que presenciamos. Muitas são as desculpas dadas para que a diversidade não seja discutida e/ou colocada como um dos principais pontos do diálogo sobre o que envolve uma educação de qualidade, fazendo com que a discussão fique relegada a segundo plano, e todos os problemas relativos à mesma sejam camuflados, o que só agrava a situação do aluno dentro de sala de aula e, consequentemente, a sua formação para a vida.

Portanto, a questão da diversidade na educação é de suma importância para que a mesma se efetive, porém o que se vê não é exatamente isso. Tal questão é muito mais abrangente. Diria até que não deve ser apenas exclusividade da escola, mas esta, como centro de formação “humanístico-cidadão”, tem o dever e até o privilégio de iniciar de forma mais abrangente e mais didática a discussão, para que se perca a ilusão de que se pode ter um gruo de pessoas que seja homogêneo, para assim proporcionar a todos o respeito às suas singularidades.